NOTAS SOBRE O CAPITALISMO 4.0 E A DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA (PARTE 5/5)

 
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Texto sobre economia, escrito por um não-economista, mas que mesmo assim pode valer a pena ser lido.

 

As grandes corporações estão se tornando maiores que os Estados nacionais? Parece que sim. Tal fato tem sido identificado como uma das características do chamado capitalismo 4.0, capitalismo financeiro, capitalismo global etc, que é a fase do capitalismo em que vivemos hoje.

Do Pós-guerra até os anos 1980, houve um certo equilíbrio no tripé formado por Estados nacionais, empresas e populações. Até então, o fabricante de sapatos, por exemplo, explorava (dentro de uma perspectiva da chamada Luta de Classes), mas gerava empregos. Os impostos arrecadados das empresas e trabalhadores eram carreados pelo Estado para o desenvolvimento de infraestrutura (que melhorava a produtividade das empresas) e serviços públicos (que melhoravam a vida dos trabalhadores).

Já o sistema atual se baseia em outra lógica, a lógica financeira. Agora a elite pode explorar sem ter que gerar emprego. Essa exploração se dá principalmente pelos altos juros das operações de crédito. Juros sobre famílias, juros sobre empresas, juros sobre o Estado (dívida pública). Podemos chamar esse estado de coisas de sistema de juros. O
fato de uma economia estar parada, ou seja, do empresário não ter para quem vender, faz com que ele não contrate, mesmo que o custo dessa contratação diminua diante de contrarreformas trabalhistas, que por fim não conseguem fazer frente ao sistema de juros.
 
Outra característica da atual fase do capitalismo é que o dinheiro, por conta da bancarização e financeirização, tornou-se virtual, imaterial, um "pulso magnético". Tal fato viabilizou, entre outras coisas, o chamado monopólio de demanda, que é o que acontece quando você tem que fazer exatamente o que os outros estão fazendo. Exemplo: Se você não anunciar seu produto pelo Facebook, não vai se comunicar com seu público, pois embora sistemas gratuitos estejam disponíveis para isso, esses acabam não sendo viáveis por não poderem competir com um gigante como a Meta.

Aliás, a plataformização ou capitalismo de plataforma é outra problemática com a qual temos de lidar no tempo atual. Plataformização essa que fez com que a internet livre, que tínhamos até o final dos anos 1990, virasse a que temos hoje, totalmente monitorada e dominada por grandes corporações, as chamadas big techs. Essas, encabeçadas pela GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) e também pela chinesa BAT (Baidu, Alibaba, Tencent). Esses gigantes da internet controlam as comunicações, os processos eleitorais e até mesmo a nossa subjetividade (subjetividade maquínica).
Galáxias econômicas, portanto, tem sido o termo usado para designar esses monstros corporativos, pois a expressão "mercado" já não dá conta dessa situação.
 
O dinheiro dos mais ricos, assim, é gerado muito pouco na produção, mas principalmente através de um grupo de intermediários. O carro da Ford, por exemplo, representa pouco para a empresa, enquanto que o crediário oferecido para a venda do carro significa muito.

Mas como fomos empurrados para fora de uma condição posta há 50 anos, o chamado Estado de Bem-Estar Social, para a de endividados que somos hoje? 
 
É que há 50 anos vivíamos de salário e havia o serviço público que era salário indireto. Hoje esse Estado está em ruínas e o salário não cobre nossas necessidades. Então recorremos ao crédito. Em 2003 a dívida média do salário do brasileiro correspondia a 16%. Em 2012 passou a ser 50%.
 
Bancos comunitários colaborativos espalhados pelo Brasil, onde pessoas emprestam dinheiro para pessoas, poderia fazer frente a essa dependência dos grandes bancos, as chamadas plataformas colaborativas. O mesmo vale para a tecnologia blockchain, que possibilita operações de crédito (compra e venda) entre pessoas, sem intermediação dos bancos, de forma segura. Portanto as moedas sociais, impressas ou não, aliadas aos bancos comunitários, poderia amenizar os efeitos deletérios da financeirização e agiotagem financeira. O mesmo pode-se dizer das cooperativas de crédito. Ainda sobre este assunto, vale esclarecer que moedas como o bitcoin ou o yuan (chinesa) são moedas paralelas e não colaborativas/comunitárias. Mesmo assim, moedas deste tipo já são mais de 1300 espalhadas por esse mundo financeirizado em que vivemos.

O dinheiro é planetário e os governos são nacionais. Tais fatores são incompatíveis. Por isso, o presidente dos EUA, Joe Bayden, como muitos outros, está procurando caminhos alternativos, propondo um sistema tributário internacional.

O dinheiro injetado nas famílias no Governo Lula via programas sociais, foi sugado pelos bancos quando as pessoas recorreram ao crediário. O mesmo aconteceu na crise econômica de 2008. Lá foi proposto ao governo dos EUA repassar o dinheiro não para os bancos, mas sim para os endividados com os bancos, o que quitaria essas dívidas e no final todos sairiam ganhando. Mas no final não foi isso que aconteceu. Ao fim e ao cabo, só os bancos receberam os recursos e ainda tomaram os imóveis que estavam hipotecados.

Sem controlar o sistema financeiro, não há crescimento, pois o dinheiro vai para o paraíso fiscal e não para o financiamento do SUS, por exemplo. Por conta disso, o que existe no Brasil, para muitos, nem é mais considerado capitalismo. Trata-se de um sistema extrativo, parasitário, um neofeudalismo macabro.

Políticas sociais são representadas por serviços básicos como educação, saúde, segurança, assistência e previdência. Essas coisas só funcionam bem se forem públicas, gratuitas e universais. É assim em todos os países onde as políticas sociais deram certo. Para o professor Ladislau Dowbor, o estado não deve entrar no processo produtivo; enquanto que o setor privado não deve se envolver com políticas sociais. Isso se chama Economia Mista. Na Economia Mista o Estado cuida das políticas sociais, infraestrutura e planejamento, enquanto o setor privado se encarrega da produção. Economia Mista também tem a ver com sistema produtivo misto, onde iniciativa privada, estado e cooperativas trabalham juntos.

 
REFERÊNCIAS

FILÓSOFO PAULO GHIRALDELLI. Live com o Professor Ladislau Dowbor. Youtube, 9 abr. 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=c-fTJ_yaV6E&t=3s>. Acesso em: 30 jan. 2023.

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