NOTAS SINGELAS SOBRE A MODERNIDADE


O texto abaixo é uma narrativa sobre um período histórico ou tema, e não uma tentativa de explicação fechada das coisas. Narrativas existem aos borbotões e é bom lembrar que nem sempre uma precisa anular a outra.



[1] Será que "a coisa mais terrível que aconteceu à humanidade", como alguns têm dito, foi a Revolução Francesa?

[2] Vivemos, afinal, sob a égide da Revolução Francesa?

[3] A discussão surge porque estamos vendo, nos últimos anos, o crescimento de uma mentalidade anti-iluminismo e anti-modernidade.

[4] Ou seja, não se trata de uma mentalidade que vai discutir os rumos do paradigma socioeconômico (capitalismo) daqui pra frente, mas sim que vai almejar um "retorno das coisas", que vai pregar contra a modernidade em si.

[5] Nosso conceito de moralidade, no que tange ao Poder Público, é um conceito burguês e moderno.

[6] A ideia de que o "Estado serve ao povo" é uma ideia moderna. Nos tempos de Maria Antonieta, por exemplo (tempos de monarquias absolutistas), a mentalidade posta era a de que o povo é quem deveria servir ao rei.

[7] E isso porque os reis teriam "ascendência divina", cabendo-lhes administrar as coisas e não as pessoas.

[8] Cidadão, República, coisa pública, funcionário público servidor do povo: conceitos modernos.

[9] Decapitar Maria Antonieta não foi apenas um ato de revolta, mas de "sacrilégio contra os deuses". A cabeça sangrando, vermelha, objetivava mostrar que o sangue do rei não era azul, que o rei era um homem como os outros. Ato de convencimento do povo pela burguesia.

[10] As revoluções burguesas terminaram com as monarquias absolutistas.

[11] Mas afinal, como surgiram as burguesias e suas revoluções?

[12] Quando o império romano começou a ser invadido pelos povos do norte, os chamados bárbaros, esse império foi se esfacelando e cada general romano ficou com uma parte desses territórios, tornando-se senhor feudal (ou seus descendentes tornaram-se senhores feudais).

[13] Com a queda definitiva do império romano, a religião cristã, que era a oficial desse império, se manteve, passando a ser a religião que unificou todos os feudos. Séculos depois, tem-se reinos diferentes, que se uniram pela igreja. Esse processo aconteceu por volta da idade média.

[14] Esses feudos, sob a figura do rei (ex-general romano ou seu descendente) passou a dar terras para os príncipes, que formaram outros feudos. Mas quando o rei queria unificar esses feudos sobre o seu poder novamente, ele montava um exército para lutar contra esses príncipes, reunificando os feudos sob nações maiores. Assim surgiu a França e a Inglaterra.

[15] Mas para que o rei pudesse levar a contento os seus objetivos, ele precisava de gente que morava dentro dos feudos ou dentro dos burgos, que eram os burgueses. Mas os feudos, bem como seus burgos, continuavam sendo propriedades do senhor feudal.

[16] Quando o senhor feudal ou rei precisava de dinheiro para organizar o reino, este os solicitava aos burgueses (banqueiros e comerciantes). Os burgueses cediam, sob a condição do rei conferir autonomia ao burgo; transformando-o em cidade. O pretexto para justificar esse pedido é que a cidade seria "algo para o povo", mas na verdade era mesmo algo para os burgueses. Essa autonomia incluía a criação de um novo conjunto de leis.

[17] Com isso, esses novos países que surgiram sob a unificação dos feudos eram monarquias absolutistas. Itália e Alemanha se formaram sob a unificação de territórios tardiamente, já no final do século IXX (e não nos séculos XVII e XVIII, como os outros países).

[18] Essas monarquias absolutistas se organizavam não sob a ótica de classes, mas de Estamentos: um sistema de castas formado por clero, nobreza, burguesia, proletariados, pequenos burgueses...

[19] Sob a questão tributária de financiamento das monarquias absolutistas, esse financiamento continuou se dando sob empréstimos dos burgueses, o que fez com que o rei, mesmo tendo controle sobre essas terras, possuísse dívida com esses burgueses. Com isso, o rei cobrava impostos que sustentavam os dois primeiros estamentos (clero e nobreza). Esses impostos eram cobrados basicamente da própria burguesia e da prole.

[20] Inevitavelmente surgiram conflitos entre o rei e a burguesia, em nome de poder e autonomia reivindicados pelo burgo. O resultado desse conflito foi a revolução burguesa.

[21] Essas revoluções foram mantidas por meio de assembleias. Nessas assembleias, burguesas, criou-se a divisão entre esquerda e direita. A direita defendendo um sistema de privilégios, com impostos sendo pagos pelos trabalhadores para os estratos superiores da sociedade (resquícios do sistema de estamentos); e a esquerda defendendo que trabalhadores não pagassem imposto algum, abolindo-se, assim, qualquer resquício do sistema de estamentos (clero passaria a existir separadamente e todos os outros estratos virariam povo).

[22] Povo = Proprietários dos meios de produção + não proprietários dos meios de produção. Ou seja, divisões de classes com base em critérios econômico-sociais e não mais de sangue. Divisão por dinheiro, "mérito".

[23] Vale citar que essa divisão esquerda/direita é uma divisão burguesa: burguesia de direita e burguesia de esquerda.

[24] Portanto, o sistema de ensino público e gratuito é uma invenção burguesa, que procurou incutir no proletariado a ideia de mérito. O proletariado comprou essa ideia.

[25] Mas as revoluções burguesas nem sempre extinguiram a nobreza, como no caso da Inglaterra. Porém, esses nobres passaram a não mais governar, apenas a referendar o Primeiro Ministro eleito pelo parlamento.

[26] Os parlamentos também passaram a se dividir por classes: pobres x ricos, burgueses x proletários. Exemplo: Na Inglaterra, Partido Trabalhista x Partido Conservador; nos EUA, Partido Democrata x Partido Republicano. Ou seja, esquerda e direita estão representadas nos parlamentos por determinadas tendências políticas: progressistas, liberais (esquerda); republicanos, conservadores (direita).

[27] A revolução francesa apontou um caminho republicano e moderno para a França. Mas a república não vingou por lá, prevalecendo um império sob a figura de Napoleão Bonaparte, que expandiu o modo de vida oriundo da Revolução Francesa para outros países.

[28] O Iluminismo é um legado da Revolução Francesa. As correntes conservadoras se organizaram em torno de certas tendências do Romantismo.

[29] A influência de Napoleão em toda a Europa, pela difusão dos ideais da Revolução Francesa, não englobou a Rússia, que tempos depois se modernizou pelo seu próprio Napoleão: Josef Stalin.

[30] Portanto, a Revolução Francesa criou o que conhecemos hoje como democracias liberais ou monarquias constitucionais. No Brasil, essa modernização chegou com a vinda da família real.

[31]
A nova direita é, portanto, não só antissocialista, mas também anti ou pré Revolução Francesa.

[32] Capitalismo moderno: resultado das Revoluções Francesa, Inglesa, Americana, Industrial e Técnica.