BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ (RELATO, PARTE 1/2)


(Texto escrito em setembro de 2010)

No Parque Natural Municipal Atalaia, vi logo na entrada, um quilômetro à minha direita, uma área bastante degrada, numa clara desobediência ao Código Florestal: era um topo de colina metade verde rasteiro, metade solo cru, num desenho tão bem feito que ficamos a nos perguntar “o que aquele cara iria fazer ali?”. Outra coisa que me surpreendeu foram as propriedades particulares, bastante humildes, que há décadas foram erguidas dentro do parque, caracterizando situações fundiárias pendentes. Mata Atlântica primária só no alto, bem no alto, dos morros.

O professor João, geógrafo representando a Associação Cândido Mendes de Pesquisa (ACAMEP), fez a preleção na frente da sede do Parque, em meio às crianças de alguma escola que brincavam por lá. E assim iniciamos nosso roteiro de aprendizados e debates.

A história do Parque Municipal Natural Atalaia está ligada a história do fornecimento de água para a cidade de Macaé. No passado, tiveram a visão de preservar a floresta que margeava o Córrego Atalaia. E assim surgiu o parque. Esse Córrego, nos dias de hoje, continua realizando seu nobre trabalho, mas suas "atribuições" resumem-se a um único bairro, de mesmo nome, situado abaixo dali.

A segunda explanação que o professor fez se deu diante de um ponto do parque onde a mata nativa entrelaça-se à mata secundária, criando o que a ecologia chama de “efeito de borda”. Algumas embaúbas que se desenvolveram ali, além de outras plantas, eram as indicadoras daquela passagem.

Seguimos trilha acima, nos aproximando da área de mata primária, onde pudemos perceber uma notória queda de temperatura e aumento da umidade do ar. A floresta é importante para a hidrologia, porque possibilita o armazenamento da água da precipitação, que infiltra no solo, que vai alimentar o lençol freático, que vai alimentar os corpos hídricos (rios, lagos, etc) e que vai voltar novamente para a atmosfera. Pra se ter uma ideia, 1 kg de serrapilheira (aquelas folhas mortas que cobrem o chão da mata) pode reter de 6 a 7 kg de água!

Notamos também muitas pedras pelo caminho, de grande granulometria, nos fazendo imaginar se por ali outrora não teria passado a forte correnteza de um cristalino rio. Ou até mesmo, se com o fim da última glaciação (há uns dez mil anos), o grande cerrado que era Região Sudeste não teria sido castigado por fortes chuvas, que encontraram um solo desprotegido, e que por isso as muitas rochas que foram reveladas naqueles tempos estariam lá até hoje, pra todo mundo ver. Ficamos a imaginar...

Mais acima, já perto dos reservatórios que armazenam o precioso e potável recurso hídrico, pudemos notar a presença de muitos palmitos, plantas essas indicativas de mata atlântica preservada. Também vimos e tocamos as árvores mais compridas e de troncos mais grossos, que se bifurcam bem no alto, sempre procurando a luz. Ou seja, havíamos atingido nosso objetivo daquela manhã. Só não foi mais perfeito porque não pude fotografar uma bonita cobra que apareceu a uns dez metros da gente, devido ao grito “cinematográfico” que uma colega de curso deu ao vê-la. Imagino o susto do animal.

Depois do almoço, numa churrascaria de beira de estrada, seguimos para um ponto da RJ-142 (ou seria RJ-146?) e nos reunimos acima de uma pequena ponte que cruzava um trecho retificado do Rio Macaé. O céu estava fechado, a chuva que vinha da capital se aproximava depressa e a baixa temperatura incomodava os colegas sem agasalho.

O professor, sempre observando com bastante atenção o terreno, para depois nos explicar o que estávamos vendo, informou que as bonitas colinas que despontavam em muitos pontos do campo verde que se estendia à nossa frente, eram formadas em suas estruturas por rocha sã (também chamada de embasamento cristalino ou litosfera). E que as partes planas que as circundavam eram o resultando dos sedimentos que desceram das mesmas, ao longo de muitas eras.

Pudemos também, naquele ponto, observar de forma bastante clara a geomorfologia da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé: montanha, colina e baixada.

O campo a nossa volta revelava uma expressiva pobreza de vegetação, resultado de um conjunto de fatores. Mas dentre os principais, o próprio processo de retificação a que o Rio Macaé foi submetido revelou-se o mais importante ao longo dos anos. Retificação essa também responsável pela drástica diminuição da fauna do rio e pelas enchentes que castigam os macaenses todas as vezes que chove um pouco mais.

Por fim, a aula teve que ser abreviada devido ao aumento da garoa. A temperatura caiu ainda mais. Aproveitei para pegar uma carona com o motorista da nossa van até Rio das Ostras e fomos conversando sobre política local e cavalos. Cheguei em casa molhado e batendo o queixo.

Foi mesmo um belo sábado.

 

(Leia a parte 2 deste relato clicando aqui)